Recentemente, foi noticiado o caso de um edifício que desabou na região do Grande Recife. Chamou a atenção da equipe do Engenharia 360 de que o mesmo era exemplar de um modelo construtivo não mais utilizado na engenharia civil. Estamos falando das estruturas de prédios-caixão, um tipo específico de edificação caracterizada pela utilização da alvenaria estrutural, onde as próprias paredes de tijolos am o peso dos pavimentos. Ou seja, nesse caso não existem os tradicionais pilares e vigas de concreto armado.

Parece estranho falar dessa engenharia – especialmente por conta do nome, “caixão”, que deriva do formato simples e retangular de tais obras, que mais parecem uma caixa, sem qualquer detalhe arquitetônico em destaque. Esse modelo construtivo foi popularizado em Pernambuco a partir da década de 1970 – até porque era uma alternativa econômica e rápida. Contudo, em 2005, acabou sendo proibido pelas normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ver NBR 15812). Qual a razão? Graves vulnerabilidades capazes de provocar desabamentos súbitos e fatais.
Como funcionam as estruturas dos prédios-caixão?
Assim como explicamos antes, as estruturas convencionais de engenharia civil se valem de pilares e vigas de concreto para ar carga. No caso dos prédios-caixão, a situação é outra! Sua base depende de alvenaria estrutural, exigindo que as paredes sejam capazes de ar todo o peso das lajes e dos pavimentos superiores. Entenda que é diferente de uma alvenaria cujos vértices possuem amarrações que acabam funcionando como pilares e as cintas superiores como vigas. Também não é igual à alvenaria de vedação, usada normalmente para dividir ambientes.
A ausência de armaduras internas, somado ao uso de tijolos de baixa qualidade, faz essas construções serem pouco resistentes e extremamente vulneráveis às falhas. Traduzindo, qualquer mínima alteração – principalmente uma reforma mal planejada, como abertura de portas ou janelas – pode levar ao colapso do conjunto. E é claro que esses fatores tendem a se agravar com o ar dos anos, contribuindo para aumentar a fragilidade dessas edificações.
Quais os problemas identificados em estruturas de prédios-caixão?
De acordo com os especialistas, pode-se identificar alguns problemas que tornam os prédios-caixão perigosos e suscetíveis a desabamentos.
- O primeiro deles é a sobrecarga estrutural; muitas vezes, paredes que am mais lajes do que a resistência do tijolo permite.
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- Devido à rigidez dos tijolos, fissuras podem surgir de forma repentina, sem sinais claros de alerta; uma pequena trinca pode se propagar rapidamente, causando rupturas bruscas.
- Para completar, problemas de fundação como recalques desiguais – ou seja, afundamentos diferentes em pontos distintos. Quando isso ocorre, trincas se espalham pelas paredes e o tijolo começa a se esfarelar, comprometendo toda a estrutura.
E não poderíamos deixar de falar das modificações indevidas nos prédios-caixão feitas pelos moradores sem qualquer orientação técnica. Isso pode desestabilizar as estruturas, sendo o equivalente a retirar um pilar de concreto, comprometendo gravemente a segurança dos edifícios.
São sinais de alerta: estalos nas paredes (que podem indicar tensões internas), esquadrias que travam ou não fecham corretamente (o que já pode ser consequência das deformações nas estruturas), trincas e fissuras que aparecem de forma súbita, desnível de piso (indicando recalque na fundação) e tijolos esfarelando (sinal de que o material está perdendo resistência).
Como os prédios-caixão se comportam ao longo dos anos?
Com o ar dos anos, os engenheiros entenderam melhor os riscos associados aos prédios-caixão. Ficou evidente que não se podia mais construir desse jeito, principalmente depois de uma série de desabamentos fatais em Pernambuco. Segundo os dados mais recentes levantados pelo Instituto de Tecnologia local, ainda existem milhares de edifícios construídos com esta técnica no Grande Recife, dos quais a maioria apresenta algum grau de instabilidade. Por exemplo, nas análises de 2023 da Defesa Civil, pelo menos uma centena deles estava no nível mais grave de risco.
A saber, desde os anos de 1970, Pernambuco já registrou pelo menos 18 desabamentos envolvendo prédios-caixão, incluindo casos com múltiplas vítimas. Em 2023, houve um histórico preocupante de desabamentos e tragédias, com mais de 20 mortes registradas. E, infelizmente, novos casos podem surgir já que muitos dos remanescentes vêm sofrendo com infiltrações, danos profundos às bases e falta de manutenção.
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O drama dos moradores e a proibição
Em 2005, ou a ser proibido o uso da alvenaria estrutural como única base estrutural em prédios residenciais. A proibição visa evitar tragédias futuras e incentivar a utilização de outras técnicas mais seguras, como o concreto armado e estruturas metálicas.
Antes disso, ao longo das últimas décadas, diversos prédios-caixão foram interditados. Contudo, vários deles ainda permanecem habitados, sob risco de desabamento. Isso é mais comum em regiões ocupadas por famílias em estado de vulnerabilidade, consequência de alternativas habitacionais e o déficit de moradias populares que agravam a situação. Famílias inteiras precisam deixar os imóveis repentinamente e enfrentam dificuldades para receber indenizações e encontrar moradias seguras.
Resumindo, não é apenas um problema técnico, mas também social e econômico, exigindo ações públicas que auxiliem nas demolições e reconstruções adequadas.
Quais são as soluções para prédios-caixão em risco?
A engenharia prevê hoje que haja somente três caminhos possíveis a se seguir após a identificação de problemas em um prédio-caixão. O primeiro é tentar fazer manutenção e pequenos reforços para garantir condições mínimas de segurança; estamos falando de intervenções pontuais, como a recuperação de partes danificadas e o reforço localizado. Em caso mais crítico, realizar intervenções técnicas como encamisamento de alvenaria, cintamento de vergas e contravergas, e instalação de armaduras metálicas para aumentar a capacidade de carga da estrutura. E, em último caso, demolir toda a obra.
A realização de laudos técnicos por profissionais especializados é fundamental para avaliar o grau de risco e determinar se o imóvel pode continuar habitado ou se deve ser interditado e demolido.
Não tem jeito, se o avaliador estrutural identificar que existe um alto risco de colapso, a melhor solução é derrubar o prédio e reconstruí-lo seguindo padrões modernos de engenharia. Nesses casos, o custo de recuperação pode superar o valor de um imóvel novo e também nenhum preço vale a segurança de uma pessoa. Afinal, arriscar vidas pela economia é a decisão mais burra que se pode fazer, não é mesmo?
Veja Também: Domine o Detalhamento de Estruturas em Concreto Armado
Fontes: G1 – Globo, UOL, Unit, Folha de Pernambuco.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.